segunda-feira, 20 de novembro de 2017

ARGENTINA: MOMENTO DIFÍCIL - SOBRE AS BUSCAS AO SAN JUAN

Por Helena Dornelles - Piloto de testes da Lockheed Martin

Os amigos que gostam das coisas da aviação têm me perguntado o porquê da dificuldade de se localizar o San Juan, o submarino argentino que está desaparecido faz alguns dias, já que se trata de uma embarcação bastante ultrapassada e, conseqüentemente, muito fácil de ser localizada pelos modernos equipamentos de detecção de submarinos.

De fato o San Juan, um submarino da classe TR-1700, é uma máquina sem muitos recursos que foi fabricada em 1983 pela Taxem Nordseewerke da Alemanha e que, junto com o seu irmão Santa Cruz, já está mais do que ultrapassado.

Mesmo tendo sido reformados e atualizados, esses TR-1700 são facilmente localizáveis por aeronaves anti-submarinos, como os nossos Lockheed P-3 Orion, uma espécie de versão patrulha naval do conhecido Electra II, ou pelos nossos concorrentes que estão entrando no mercado agora, os Boeing P-8 Posseidon, a versão patrulha naval do Boeing 737 que a Boeing lançou não faz muito tempo.

Foto Boeing Company

Boeing P-8A Poseidon

O problema é que os mecanismos de busca dessas aeronaves são para localizar alvos ativos, tanto faz se parados ou se movimentando, mas com as assinaturas de máquinas e equipamentos eletrônicos funcionando e também com os sinais de corações batendo e pulmões respirando dentro deles.

São muitos os recursos dessas aeronaves anti-submarinos, alguns conhecidos e outros absolutamente confidenciais. Para vocês terem uma pequena noção desses recursos, o simples e milimétrico aumento da superfície da água quando um moderno submarino nuclear russo se desloca a centenas de metros de profundidade é detectado por um desses equipamentos, imaginem então como seria fácil se detectar um antigo e ultrapassado submarino diesel-elétrico alemão.

Só que, ao que tudo indica, infelizmente o que está sendo procurado não é mais um alvo ativo e sim um monte de ferro silencioso no fundo do mar, já sem máquinas ou equipamentos eletrônicos funcionando, mas com uma grande possibilidade de ainda haver corações batendo e pulmões respirando dentro dele.

Para esse outro tipo de busca, para a busca de uma massa inerte, a ferramenta ideal é uma outra versão do nosso P-3 Orion, uma versão que foi desenvolvida a pedido da NASA para estudar os efeitos das mudanças climáticas na região dos pólos, ou seja, uma aeronave capaz de buscar blocos de gelo, correntes submarinas, anomalias magnéticas e outras coisas assim.

Foto NASA

Lockheed P-3B Orion (c/n 152735), para pesquisas geofísicas.

Por uma feliz coincidência, se é que pode haver algo feliz nessa tragédia, um deles, que está a serviço do Ice Bridge Project, está justamente na região em que o San Juan desapareceu e já começou o seu trabalho de busca.

Ele é um Lockheed P-3B Orion, é o c/n 152735 (c/n é como se fosse o número de série do fabricante) e, como vocês podem ver na ilustração abaixo, os equipamentos que ele carrega são completamente diferentes dos equipamentos usados nas missões anti-submarinos.

Ilustração Lockheed Martin Corporation

Sensores e antenas para pesquisas geofísicas do Lockheed P3-B Orion.


Que esses marinheiros estejam com Deus e que Deus esteja com a família deles... é triste.